Muita coisa mudou quando resolvi deixar o Rio de Janeiro, em 2002, para fazer um mestrado em Euro jornalismo (jornalismo especializado em União Europeia (UE)), na França. A idéia era ficar somente um ano para aprender bem o francês e, depois, retornar ao Brasil.
Mas encontrei uma pessoa muito interessante na Universidade de Estrasburgo e nos casamos relativamente rápido. Três anos depois, veio o Elias, e o tempo passou. Nos mudamos da França para a Bélgica em 2004 (onde estamos até hoje) porque o meu marido, igualmente jornalista (só que francês), foi transferido para Bruxelas para cobrir o cotidiano da UE.
Mas vamos ao que interessa:
1. Andar encapotada
Aqui, ando parecendo um urso, toda coberta. Dois casacos nunca são suficientes. E as pessoas estão sempre me perguntando se eu estou doente??? Dias de sol são raros e a chuva e o vento estão sempre presentes, apesar de o tempo ter mudado nos últimos anos: está cada vez mais quente. Os belgas, no entanto, festejam quando veem um pequenino raio de sol. Alguns são vistos de short correndo nos parques.
2. Jantar cedo
O belga adora uma sopinha antes de almoçar ou jantar (que pode ser às 17h, 18h, super cedo). Pensando bem, é uma forma ótima de começar uma refeição e sentir-se satisfeito e não comer tanto depois. Eu só tomava sopa no Brasil quando estava doente ou em dias frios, que eram raros no Rio de Janeiro! Também nunca comi tanto sanduíche na minha vida desde que vivo aqui. O belga opta facilmente por um lanche na hora do almoço e compensa o jantar com uma refeição de verdade.
3- Viajar sempre
Viajar num país pequeno como a Bélgica é muito prático. Você pode cruzar o país de carro em apenas um dia. As cidades são lindas e tem sempre uma história emblemática. As praças centrais são um convite para você sentar num bar ou salão de chá e admirar a beleza das construções. Eu sempre tenho a impressão de estar num joguinho de montar que eu adorava quando era criança: o Engenheiro. As peças eram de tijolinhos e ficavam lindas sobrepostas. Aqui também é a capital do estilo art-nouveau: adoro observar as fachadas das casas com o ferro trabalhado. Se quiser viajar para um país vizinho, é possível e rápido. Já fui à França beber champanhe em Reims, assistir a jogos de futebol na Alemanha, e frequentar museus na Holanda. Tudo em no máximo três horas de carro. Para o Luxemburgo nunca fui, mas parece que vale à pena.
4- Infraestrutura
Em questão de infraestrutura o país está bem servido. Há creches, escolas e centros esportivos para todos os tipos de bolso. Em cada bairro, as famílias têm essas opções. Não vou entrar no mérito da qualidade dos locais, mas criança vai à escola e fica lá em tempo integral e sai de lá com a vacina em dia, alimentada, sabendo um esporte e a educação de base.
5- Andar de bicicleta
Andar de bicicleta na Bélgica ainda não foi uma tarefa que eu aderi. Mas a magrela é bem apreciada aqui. Tem gente que tem uma garagem cheia delas. Os belgas são poluidores mas também ecológicos. Saem para trabalhar sem problemas nas duas rodas e ainda levam os filhos à creche ou escola num banquinho acoplado à bicicleta.
6- Os apartamentos
Outra coisa que me fascina são os apartamentos dentro de Bruxelas (uma capital com cara de cidade do interior) que podem ter jardins privativos. Podem ser também bem amplos, com o pé direito alto. Muito lindos. E os aluguéis, em comparação com as outras capitais da Europa, são realmente muito atraentes. Há ainda muitos parques e espaços verdes que cortam a cidade, excelente opção para quem quer fazer esporte, caminhar ou levar os filhos para brincar.
7- O comércio fecha cedo
Ponto chato para mim. Gostava de sair do trabalho no Rio – saía quase sempre tarde – e ir jantar ou tomar algo com os amigos ou a família. Ou comprar algo num shopping ou numa loja do bairro. Aqui, os horários são apertados, a maioria das lojas fecha às 18h. E os restaurantes que ficam abertos até tarde são poucos.
8- Internacionalização
A capital da Europa sempre atraiu muitas nacionalidades, pelo menos 28 para Bruxelas. Portanto, fazer amigos do mundo inteiro é coisa comum. Bem como como comer uma comida que você nunca teve acesso. Pelo menos eu. Outro dia fui a um restaurante Búlgaro e a show de música grega.
9- Choques culturais
Sou de origem libanesa católica (minha vó só usava lenço sobre a cabeça quando ia à missa aos domingos), mas nunca tinha visto tantas mulheres de véu sem poder mostrar os cabelos. Também não podem mostrar o corpo, por isso o uso de casacos longos tampando o bumbum ou vestidos longos. Já vi também muitas de burca preta. Aí foi um choque. Conheci algumas muçulmanas em alguns cursos de línguas que fiz e tive a chance de conversar com elas. Nunca entendi muito bem o uso do véu. As explicações não me foram convincentes. Mas respeito a decisão delas! Em compensação, gostei de aprender a fazer os doces árabes que me ensinaram, muito parecidos com os do Líbano. Tomei chás de hortelã quentíssimos e muito açucarados (tem que gostar).
10- Uma guerra entre duas línguas
Aqui há uma coisa, digamos chata, que acontece muito. O confronto das duas línguas principais do país. Ao Norte, fala-se o neerlandês, e, ao Sul, o francês. É assim desde a sua criação, e isso causa algumas guerrinhas internas no país, tanto na esfera política quanto na comunicação entre as regiões. Muitos belgas não se misturam com o seu próprio povo e recusam a falar a língua do outro. É complicado!
Enfim, na terra da cerveja, da batata frita e do chocolate tem mesmo muito a fazer, a degustar e a aprender. Infelizmente, os 300 tipos de cerveja passaram e passam longe de mim. Não curto. Prefiro vinho. As batatas são realmente muito boas, mas não para comer toda semana. Um especialista em gastronomia disse que são mergulhadas na gordura de porco duas vezes antes de serem servidas. Mas os chocolates, ah, isso sim, é maravilhoso. Temos de tirar o chapéu. Impossível ficar só num pedacinho.
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