Houve um tempo que eu fazia questão de usar uma roupa de cor apropriada para a passagem do ano. Uma vez, optei pelo amarelo com detalhes dourados. Isso era para atrair muita riqueza, numa época em que eu trabalhava para uma editora no Rio. E, estava dura!
A roupa era bonita, eu achei, nova e cara. Meus amigos, a única coisa que aquela roupa me trouxe foi dívida de crediário.
Dai, quando me mudei pra cá, pra Londres, vi todo mundo passando o Ano Novo ou de casaco preto, azul marinho, cinza ou de pretinho básico em festas animadas em casa. Comecei a deixar ir embora aquela forte tradição brasileira.
E, as festas? Ah, antes sempre tinha que ter uma festa. Depois de ter meus filhos, a festa passou a ser mesmo deles. A gente fica por conta. Resultado: nada de comemorar até 5 ou 6 da manhã. Isso já era! Agora, só quando ficarem mais velhos. E, lá na frente, será que vou querer?
A casa hoje acordou cheia de barulho, como todos os dias, o que sinceramente, me faz uma pessoa de muita sorte! Crianças pulando em camas, sujando a cozinha e as roupas, espalhando brinquedos pela sala. A festa hoje vai ser dar uma passadinha na casa de duas amigas e tomar um café, chá, o que quer que tenham! Isso também me faz uma pessoa de sorte.
Viver aqui, em Londres, tão longe da rotina de amigos e família queridos precisa ser compensado com amizades. Poucas, bonitas e de verdade. Meu marido costuma dizer que eu nasci velha. O que ele quer dizer com isso é que gosto de palavra cruzada, gosto de casa arrumadinha com flores, gosto de ler, gosto de filme francês. Não gosto de cerveja, não ligo pra praia e o Carnaval não me encanta.
Mas, na virada do ano vai ser diferente e terá uma imensa festa em mim. Mês que vem, que já é o outro ano, vem com expectativas, minhas e de quem apostou em mim. O ano foi de praticar a paciência, mas foi um ano pontuado de glória no meu ponto de vista. Um ano caro, feito vista para o mar. E, assim sendo, quando na virada, à noite, as mágicas doze badaladas dos relógios que trazem no ar frio um fio interminável de esperança e coração em festa, vou brindar!
Sempre em agradecimento na minha festa quieta, de dentro, de verdade. Vou me lembrar da beleza que é poder estar onde quis. Vou me lembrar da alegria no último volume que é poder começar e recomeçar, como se eu fosse mesmo, imaginem, especial.
E, quando acabarem as badaladas e eu for dormir, vou acordar num ano novinho em folha, com a casa do mesmo jeito de hoje. O que sinceramente, me faz uma pessoa de sorte. Muita sorte.
Um felicíssimo e ilustríssimo Ano Novo para todos nós!
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