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Foto do escritorSonaira D'Ávila

Coração de mães

Atualizado: 12 de out. de 2019


Não, não fui mãe. Nunca carreguei por 9 meses uma vida dentro de mim. Nunca senti as dores do parto ou as angustias da "boa hora"!

Também nunca fui obrigada a gerir o que não desejava e condenar em vida uma vida.

Não seria este

o pior dos abortos, o abandono?

Não, nunca recebi presentes, telefonemas, flores ou almoços de domingo em Maio!

Acordei pensado nisso, e me veio a imagem de uma grande fila de mulheres, encabeçada pela minha mãe, a mãe dela, a mãe da mãe dela... Todas MÃES.

Não, não fui mãe. Não queria repetir a história delas e isso sempre foi muito forte em mim . E pensei nos filhos e filhas delas...

Quanta dor, sonhos, lutas e desafetos. Quantas histórias de medos e frustrações . Sim, sou filha de várias gerações de mulheres, e de certa forma guerreiras, acostumadas a seguir em frente.

Elas não foram criadas com afeto e tinham medo dele. Pensavam que ele( o afeto) as enfraquecia, eu acho. Mas, passaram a vida inteira buscando este colo primordial, este peito que nutre, este abraço sem cobranças onde a simples presença esquenta a alma. E como não tinham, não conseguiam doar. Foi e ainda é este o legado de muitos de nós...

Não , não fui mãe.

A eterna luta por sermos indivíduos e buscarmos ser aceitos como somos. E apesar das diferenças e distâncias, receber um beijo e muitos abraços. E quem sabe, um colo( prêmio maior).

Cresci assim, dando intuitivamente o que mais queria receber, mesmo sem saber!

E como que por mágica, quanto mais dava, mais recebia. Sim, sou feita de colos, abraços, beijos . Cresci cuidando de todos como gostaria que cuidassem de mim:

Com atenção, afeto, mediando os conflitos, arranjando saídas. E tentando de novo!

É, a capacidade de regeneração das crianças é invejável...Por isso luto pra minha não morrer!

Depois vieram os amigos, os alunos, os companheiros, os filhos da vida, os filhos dos amigos, os sobrinhos, o Marido, as filhas do marido, os netos…

Assim desenvolvi uma inteligência emocional que norteia minha vida com todos os sentidos.

Sempre fui a conciliadora, me dói no peito o desafeto, a raiva, a cobrança, o abandono e sobretudo a falta de escuta.

Principalmente quando no fundo, bem no fundo,TODOS queremos ouvir a mesma coisa.

Nada na vida é mais destrutivo do que uma palavra mau dita, do que o ciúmes, a disputa de afeto ou a mágoa que se remoe no dia a dia. Nada é mais poderoso, curativo e revigorante do que um "EU TE AMO!” Nada...

Não,nunca fui mãe. apenas um coração cheio delas.

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