Os distúrbios mentais e emocionais vêm sido tratados com muita seriedade e com prioridade no Reino Unido. "Você quer tomar remédios ou fazer exercícios?" Quando o médico me fez essa pergunta, me lembro de, do alto dos meus ombros pesados e minha sensação de choro, cabeça pesada, pensar que alguma atitude eu teria que tomar.
O momento era delicado. Eu tinha acabado de ter minha filha linda e saudável e tinha acabado de perder minha mãe para um câncer. Nesse trajeto entre Inglaterra - Brasil - Inglaterra, alguma coisa aconteceu e eu caí numa depressão fortíssima. Não tenho vergonha nenhuma em assumir isso. Não me embanano pra dizer claramente que pensei em acabar com a belíssima vida que eu tinha e tenho. A depressão faz isso da gente. E isso nunca deve ser vergonha. Mas deve ser um aviso para procurar ajuda. Na maioria das vezes eu não queria que nada de ruim acontecesse. Mas, às vezes, quando era difícil segurar as pontas agudas e ásperas desse tormento, um ponto final chegava a ser sedutor. O dia em que formos honestos em relação às emoções que são transformadas com os distúrbios emocionais, vamos conseguir lidar com indivíduos depressivos, bipolares, neuróticos. Ainda fala-se pouco sobre o assunto. Ainda há vergonha em reconhecer a condição tão frágil e humana que envolve a depressão.
Se quebramos o pé ou machucamos a pele, enxergamos o osso fora do lugar, o sangue que escorre. Com a depressão o peso é invisível, mas quando o cuidado e a atenção ao assunto são negligenciados, as consequências podem ser vistas e sentidas por muitos. Aqui na Inglaterra o governo aumentou os recursos para tratar distúrbios emocionais, especialmente em jovens. A fila de espera está menos lenta, famílias vêm sendo educadas para entender e lidar com a fragilidade, a emoção, o peso e a leveza do próximo. Uma dia chegamos lá. E na sua região, fala-se e cuida-se da depressão como a condição que é?