O povo carioca é um povo feliz. O povo carioca é um povo festeiro. O Rio de Janeiro é lugar de alegria. Frases como estas são repetidas por aí, desde sempre. Hoje, 1º de março, aniversário da Cidade Maravilhosa, coincidentemente é quarta-feira de Cinzas. Eu, que tentei fugir do carnaval na minha própria “casa”, me senti estrangeira, descombinando com a folia.
Decidi ficar para poder colocar a vida em ordem, a lista de filmes do Oscar em ordem, a cabeça. Peguei o metrô lotado dois dias. Filas enormes para acessar, gente fantasiada, animada, suada, gritando, gente mal educada esbarrando em tudo, baldeação.
Nada contra a moça bonita que pula o carnaval, mas, olhos arregalados discordando do rapaz que entra no metrô e joga no canto do vagão sua latinha de cerveja vazia.
O Rio é um lugar lindo pra se viver... Mas... Por que não conseguimos? Fico triste comigo mesma, pois, quando escrevo sobre o Rio, sempre faço com tristeza. Amar e querer bem às vezes dói... Dói mais ainda ter a certeza de que cuidar deste espaço não depende de mim... Não só de mim. Há quem diga que o ano só começa depois do carnaval. Se é verdade, hoje, como presente de aniversário, desejo que minha cidade tenha um povo mais educado e consciente. Desejo que sejamos menos egoístas e pensemos no espaço alheio, na liberdade que cabe a cada um de nós, que tenhamos amor pela cidade que nos acolhe com generosidade.
Enquanto desejo todas essas coisas, passo por um canteiro de folhas secas. Apesar delas, quero acreditar nas flores que virão. Desço as escadas da estação, me encaminhando para um dia de trabalho. Caminho sobre manchas do que passou. Pelo chão, um rastro de purpurina do que já foi festa... Mas, hoje ainda é. Festa. Parabéns, Rio de Janeiro.
Foto Sonaira D´Ávila