Ainda me lembro do dia do resultado: acordei antes da casa e liguei a TV. De boca aberta e olhos em espanto fui acordar meu marido com a novidade. Precisava ser calma, tranquila. Estava prestes a acordar um leão que lutou ferozmente pela permanência do Reino Unido na União Europeia. O que veio em seguida foi um dia duro: amigos franceses, alemães, malteses, espanhóis, italianos com olhos d'água, debates e brigas com familiares, emails com ideias opostas. Foi difícil engolir que era preciso seguir uma maioria que me parece ter sido guiada por cegos rumo ao escuro do mistério que é a ilha fora do continente.
A História com sua significância e grandeza nos deu hoje, 29 de março, o Artigo 50. Começou hoje o doloroso processo de saída do reino. Há tanta dúvida, ansiedade, nervosismo que é impossível desligar a TV e esperar que tudo dê certo. Não deu. Deu errado. Claro, o Reino Unido se sairá bem. Ordeiros, ambiciosos, trabalhadores, os britânicos não vão pisar na bola. É e continuará sendo uma região próspera. Mas o que não deu certo foi o sonho da união. Quando eu planejava a minha fuga de Minas, pensei na Espanha, mas a Inglaterra falou mais alto, era pra ser. Não era tão importante assim decidir porque era possível mudar de ideia. Fronteiras abertas, trânsito livre de pessoas, um continente sem muros! Agora eu sinto um vazio, daqueles que se sente quando existe rompimento. Eu não saí de casa para ficar presa numa ilha, próspera , bonita, mas uma ilha. Eu gostaria, de forma romântica, patética e egoísta, continuar minhas idas a França, comprar vinhos bons e baratos como se não houvesse amanhã. Agora, imagina quem vive entre nações? É de um país e faz a vida em outro? É duro. É feio o que se apresenta,
Mas o amanhã chegou hoje. Sinto pelos meus filhos. Que Europa vão encontrar? Que oportunidades lhes terão arrancado os idosos certos de que a União Europeia já fez estragos suficientes? Eles não saberão. Mas deixarão sua decisão como consequência de um mundo mais complicado, burocrático, dividido e separado.
Eu sinto profundamente dizer isso, mas a União não fez a força. Ficamos mais fracos hoje. Sinto muito, crianças.
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