Você sente saudades de morar no Brasil?
Minhas irmãs sabem que não daria certo porque tudo do qual sinto falta já acabou. Não nos outros e nos lugares, mas acabou em mim. O romantismo de uma cidadezinha me ronda como um conforto e uma referência, mas não fosse pela minha mãe estar debaixo daquelas terras, o que faz do lugar a eternidade, não teria planos de futuro lá.
Sinto uma falta de Londres que me corrói. É verdade que daqui de Kent chego mais rápido em Bloomsbury e no The Strand do que quando morava em Balham, mas ainda assim, sinto falta dos vagões sujos da Northern Line e das pessoas que não sabem o que fazer com um sorriso que lhes é dado. Por isso estou tão perto. Não teria concordado em morar a mais de uma hora da capital. Mas o que acontece é que passo a prestar atenção nos detalhes antes ignorados. Detalhes como essa casa a meia hora da minha.
Hoje, agora à noite, fazia sol. Uma primavera generosa com ares de verão banhava meu jardim. Quando eu olhava o céu, pensei em fazer um plano. Planos são o segredo de uma vida feliz. Através de planos imaginamos viver anos e anos e no final da linha chegar até a felicidade. Meu plano era o de seguir o céu. Não tão longe. No carro eu coloquei o endereço. Acesso rápido e fácil. Semana que vem meus filhos estão de folga na escola. Vamos, eu e eles, seguir a rota do carro e o céu que eu vi hoje, pertinho daqui. Eles vão numa casa de campo correr por jardins bem cuidados e tomar sorvete.
Eu, ainda e até hoje, fico aqui, sem palavras, apesar de tanto texto, com o fato de que segunda-feira eu vou visitar pela terceira vez a casa onde Virginia e Leonard moraram. Numa ironia imensa, vamos, provavelmente cantando, caminhar pela beira do rio Ouse e vou deixar que as crianças joguem pedras na água, como sempre. Um turbilhão desses a meia hora daqui. E quando volto ainda preparo o almoço.
(imagem: quarto de V. Woolf em Monk House)