Para uma boa taurina hedonista como eu, morar no México é um grande desafio não engordar. A gula, de longe é o meu pecado mais frequente e se juntar isso com a minha curiosidade (destemida), num país que possui uma gastronomia tão diversa, exótica e colorida, acabo conseguindo a receita perfeita para, num curto espaço de tempo, ganhar muitos quilos a mais.
Photo @andresmit
O bom de viver em uma outra cultura é que você a conhece, a experimenta de um ponto de vista mais real, e não estereotipado.
Quem já teve a possibilidade de comer comida japonesa no Japão, a chinesa na China ou quem sabe a tailandesa na Tailândia, vai concordar comigo que em 99% das vezes que comemos uma comida internacional no Brasil, ela nunca é exatamente preparada e muito menos tem o sabor do quando é servida em seu país de origem. Eu por exemplo, adoro comida chinesa no Brasil e quando morei na China, tinha nojo do que era servido lá.
Aqui, ao comer no México, encontrei uma infinidade de pratos que eu nunca tinha sequer ouvido falar no melhor restaurante mexicano do Rio de Janeiro. Vivendo aqui, finalmente entendi na prática que o que eu entendia por “comida mexicana” era puramente o que podemos rotular como “Tex-Mex”, ou seja, a versão americanizada um tanto diferente da autêntica e pitoresca gastronomia da galera aqui do outro lado do muro imaginário do Sr. Trump.
Pra começar, aqui não se usa queijo amarelo nos pratos tradicionais, a tortilha autêntica mesmo, é a de milho, e os nachos jamais vêm temperados como o nosso querido Doritos.
Aliás, falando em milho, vejo uma glorificação do mesmo na mesa do mexicano em suas diversas formas, e pesquisando mais sobre, além de descobrir que é uma das principais produções agrículas daqui, existe também uma importância herdada dos aztecas.
A mitologia diz que o milho tem origem na unha do Deus Cinteotl, deus do milho. O mais bacana é ver que independente da classe social, de quantas estrelas Michellin tenha o restaurante, todo e qualquer mexicano, pega seu taco e o come com as mãos, sem nenhuma frescura. (É lindo de ver!)
Agora, falando de sobremesas, (e nisso sou expert, ja que é o meu único vicio da vida!), aqui sempre notei que os doces são menos doces que os brasileiros. Acho que é uma relação diferente mesmo que eles têm com o açúcar refinado. Ou pelo menos bem diferente da que nós brasileiros temos, já que todos meus amigos mexicanos acharam o brigadeiro, as tortas feitas por brasileiros doces demais quando à eles foram apresentados.
Os tradicionais arroz com leite, flan e gelatina são as sobremesas que fazem a cabeça da galera daqui.
Neste quesito, o meu doce mexicano preferido é a cajeta: doce de leite mexicano feito exclusivamente de leite de cabra. (O sabor é praticamente igual ao feito com leite de vaca).
Mas Hylka, e a fama de que mexicano come pimenta como ninguém? Sim, a fama procede. O povo aqui come pimenta, chile em todo e qualquer prato em que possam, aliás, desde cedo! Vejo crianças consumindo uma quantidade de comida picante num nível que eu jamais conseguiria.
Aqui, se você compra frutinhas cortadinhas na barraca da esquina, o acompanhamento pode ser granola e mel, ou Tajin: um pozinho vermelho que é a mistura de chile, açúcar e limão. (E não faz essa cara porque eu ja provei e viciei: uma delícia!!)
Pimenta é inclusive o acompanhamento adicional quando você pede uma pizza em casa! Mas o que mais demorei a me acostumar aqui são com os horários das refeições. O México é enorme e assim como o Brasil, dependendo do Estado ou da região, podemos encontrar outros costumes, outras tradições. Mas num geral, afirmo que a hora em que o mexicano se alimenta não tem muito a ver com os horários que pelo menos eu estava acostumada no Brasil. Aqui o café da manhã costuma ser às 11am. O almoço, 4pm e jantar… 9:30pm.
Pense numa pessoa aqui que já sofreu de fome esperando por um almoço de trabalho!!!
Em quase um ano morando na Cidade do México, ainda não tive a chance de provar todos os pratos tradicionais, já que cada região tem a sua. Mas aprendi a apreciar de uma maneira diferente essa comida condimentada e num geral deliciosíssima já que leva muita fritura e temperos.
Continuo na minha curiosidade de provar o que não provei, de saborear o que ainda não saboreei, de ver o que ainda não vi, mas com o mesmo cuidado e cautela de sempre:
-“Garçom, isso arde muito?!”
Aqui vai um vídeo meu ,lá do nosso canal do youtube, com um pouquinho mais das "guloseimas" daqui, o que você pode esperar comer no México.