Aparentemente
Penso com frequência na sorte que é ter nascido velha, como muitos dos meus amigos se referem a mim. Isso significa que eu, apesar de gostar bastante de uma festa, passaria tranquilamente a maior parte do meu tempo investigando livros, lendo a minha biblioteca, comendo poeira em algum sebo de Londres.
Ouvir música e fazer o que ninguém mais faz: nada. Quando foi a última vez que você fez NADA, sem celular, sem notificações apitando de minuto em minuto?
Fazer nada é um luxo tão grande que quem nos vê assim, no aparente ócio, imagina que precisamos de resgate, de ajuda, de interferência.
Venho ensinando aos meus filhos que quando me veem sentada num canto, lendo um livro, estou muito ocupada. Mais ou menos como estar ao telefone. Não me interrompa porque estou ouvindo o que leio.
Nesse aparente nada é onde minhas ideias, incômodos, emoções, alegrias, revoltas chegam. É quando me sinto mais próxima de algum sentido, se é que sentido existe. Esse papo profundo parece bobagem e talvez seja mesmo.
Mas sinto-me contente em saber que o prazer de ler, ouvir música, olhar da janela me são suficientes pra tapear o peso do real e que podem avançar comigo idade afora.
Hoje eu passei a tarde inteira nas livrarias de Charing Cross Rd, lugar sedutor para uma jovem Virginia Woolf que flanava por essa area mais mundana de Londres, segundo ela mesma.
Entre inúmeros tesouros, primeiras edições de vários Dickens, Austen, Brontë, Hughes, Fitzgerald (F.S.), enfim, um negócio de chorar. Entre edições de £900 com dedicatórias e mensagens que te fazem imaginar, comprei uma pilha de preciosidades a £1,99 cada. Londres tem dessas democracias.
(imagens das livrarias e sebos na Rua Charing Cross no centro de Londres)