A gente que está em outro lugar, distante da cidade em que cresceu e viveu, sempre fica ligado aos acontecimentos por lá.
Eu, desde os 5 anos, vivi no Rio de Janeiro.
E o Rio (como o Brasil e grande parte do mundo) está num momento bem delicado, onde o que era velado numa ordem sinistra invisível se revela na sua forma nua e crua.
Eu, aqui da Alemanha, vejo a cidade em ebulição com a impunidade dos políticos bandidos, um exército paralelo lutando por territórios e as forças policiais e militares lutando para restabelecer "a ordem", num descompasso de recursos, preparo, respeito e suporte.
Muitos medos, inseguranças, descaso e falta de dignidade!
Muitos, homens e mulheres, exaustos, sem moradia descente, com salários pífios e geralmente atrasados. Em todo canto.
Cada dia é um episódio novo.
Conheço muita gente em muitos lugares e alguns militares também.
Então fico sabendo do que anda acontecendo com eles também.
Às vezes, precisamos apenas ser ouvidos. Todos nós precisamos!
A empatia com o que acontece com o outro abre espaço para o diálogo e pode transformar vidas.
É no que acredito!
São 8 da manhã no Rio. E pelo zap conversei com um amigo que por acaso é, ou está, policial.
Falamos de medos, família, problema com a moradia, e no final da conversa, digo:
-Vai pra casa, descansa e se cuida.
Do outro lado o amigo me responde:
-Quem dera, quem dera, tô aqui desde ontem apoiando o terceiro batalhão, não tem previsão de rendição.
A gente tá sem descanso esperando ser rendido aqui pra voltar pra UPP e sair às 18h.
O pior é que tem um colega que já tá aqui 24h. Ele deveria sair às 6h da manhã e tá aqui também sem previsão.
E a gente querendo que se cumpra o protocolo...
Eles não podem falar, mas eu posso.