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Foto do escritorSonaira D'Ávila

O Rio sem rendição

Atualizado: 10 de out. de 2019


A gente que está em outro lugar, distante da cidade em que cresceu e viveu, sempre fica ligado aos acontecimentos por lá.

Eu, desde os 5 anos, vivi no Rio de Janeiro.

E o Rio (como o Brasil e grande parte do mundo) está num momento bem delicado, onde o que era velado numa ordem sinistra invisível se revela na sua forma nua e crua.

Eu, aqui da Alemanha, vejo a cidade em ebulição com a impunidade dos políticos bandidos, um exército paralelo lutando por territórios e as forças policiais e militares lutando para restabelecer "a ordem", num descompasso de recursos, preparo, respeito e suporte.

Muitos medos, inseguranças, descaso e falta de dignidade!

Muitos, homens e mulheres, exaustos, sem moradia descente, com salários pífios e geralmente atrasados. Em todo canto.

Cada dia é um episódio novo.

Conheço muita gente em muitos lugares e alguns militares também.

Então fico sabendo do que anda acontecendo com eles também.

Às vezes, precisamos apenas ser ouvidos. Todos nós precisamos!

A empatia com o que acontece com o outro abre espaço para o diálogo e pode transformar vidas.

É no que acredito!

São 8 da manhã no Rio. E pelo zap conversei com um amigo que por acaso é, ou está, policial.

Falamos de medos, família, problema com a moradia, e no final da conversa, digo:

-Vai pra casa, descansa e se cuida.

Do outro lado o amigo me responde:

-Quem dera, quem dera, tô aqui desde ontem apoiando o terceiro batalhão, não tem previsão de rendição.

A gente tá sem descanso esperando ser rendido aqui pra voltar pra UPP e sair às 18h.

O pior é que tem um colega que já tá aqui 24h. Ele deveria sair às 6h da manhã e tá aqui também sem previsão.

E a gente querendo que se cumpra o protocolo...

Eles não podem falar, mas eu posso.

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