Em dias assim, exatamente por causa de um contentamento que vaga singelo pelos ares ao meu redor, sinto-me fora daqui. Já acostumada com essa minha estranheza, procuro imaginar outros lugares e outras vidas.
Aqui, neste lado do mundo, tudo vai relativamente bem. Digo relativamente porque devo considerar a dor do outro e a falta de perfeição que faz do mundo, a vida de cada um.
Foi embora um verão bastante generoso, com céu azul e temperaturas boas.
Veio um belo outono, colorido de alaranjado e amarelo, com tons avermelhados, acalmando corações amedrontados pelo frio invetável.
O inverno chegou com sua força e despido de qualquer enfeite, nos dando a visão perfeita para pontos de vista bem mais claros. Tudo conforme deve ser. Mas e se não fosse?
Em dias assim me flagro em plena preparação para a volta. Mas voltar é ir pra onde? Eu voltei para onde estou. Mas imagino hoje uma volta para de onde quis sair. Daí, com clareza vejo a confusão na qual me meti.
O coração de quem um dia sai é imperfeito por natureza. É um coração insatisfeito. É um coração aos pedaços. É um coração que aprecia a distância, o impossível. É um coração com uma vida dupla. Tem duas metades que vivem como se fossem inteiras, para a própria sanidade do dono do coração.
Mas a vida passa a ser assim: plena de metades, Cheia de frações. Inundada por um mar de lágrimas e emoções. Não sou daqui. Não sou daí. Num perfeito descompasso segue meu coração batendo fora de hora pelo quente e pelo frio.
Hoje há palpitações. Talvez para que não haja ataque, me acalmo com a possibilidade de o tempo ser generoso pra mim, com vias abertas, caminhos interligados.
Talvez meu coração bata por mais de um.
E a saudade que começou este texto, já se fez passado.
Ir embora, Permanecer!!