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Foto do escritorDo Rio pra cá

Nova York no Verão e Inverno

Atualizado: 28 de out. de 2019



Verão e Inverno. Rio e Nova York


Acordo com a música retumbando no apartamento vizinho. Abro os olhos e encaro o céu azulzinho do jeito que eu gosto. Me levanto da cama e olho a rua lá embaixo. Aqui de cima o mundo parece em paz. O sol com seu jeitinho único de iluminar e fazer brotar as cores, não me engana. Lá fora a temperatura está congelante. Tomo café e me arrumo: luvas, gorro de lã, cachecol e casacão até o joelho.


Enquanto empilho todas as camadas necessárias para sair de casa, penso que no meu outro lugar, onde mora a outra metade do meu coração, onde é quase verão. As meninas desfilando os biquínis pelas areias do Rio. Milhares de garrafas de cerveja que serão consumidas, afinal, hoje é sexta-feira. Sinto uma angustiante saudade de certos rostos, vozes e risadas. É preciso falar alto pra ser ouvida. O rapaz canta e toca violão no nosso barzinho predileto. Gente bronzeada, animada. A gente até esquece um pouco as agonias do dia, a violência, as injustiças, a corrupção e por aí vai uma lista infindável. Não. Hoje é sexta-feira, e ninguém é mais importante do que nossa amiga e sua mais nova aventura amorosa. É preciso sobreviver. Ave Sexta! Ave cervejinha!


Mas espera lá! Estou no outro hemisfério. Por causa dos caprichos da curvatura terrestre e do nosso Astro rei, aqui em Nova York o visual é bem diferente. Caminho apressada. O vento frio assustando meu rosto, tão acostumado às temperaturas mais calientes. Entro no Subway que a essa hora está vazio. Coloco os fones no ouvido e os Carpenters me avisam: “Love me for what I am”. O neon vermelho avisa a próxima estação enquanto três rapazes fazem malabarismo para angariar algumas moedas. O trem para. Desço. Subo a escada e, junto com o vento frio, o cheiro de cachorro quente vem me dar as boas vindas. Saio para a rua iluminada e penso que sim!, é preciso amar Nova York pelo que ela é. Essa Babel Cosmopolita onde palpitam tantas esperanças e sonhos.

As sirenes apitam incansáveis passando pela 14 com a Sexta Avenida. O texto. Preciso escrever o texto. Esqueço a chave do Workspace. Fico do lado de fora, no frio. A amiga querida vem me socorrer. O silêncio me inspira. Escondido pelos pequenos biombos, algum escritor martela as teclas. O barulhinho me embala. Sento em um dos cubículos, tiro o laptop da mochila, bebo um gole de café e escrevo. Os dedos correndo apressados como as pessoas lá fora. Daqui a pouco encontro com filhas e netos, para assistir o Quebra Nozes. Meu coração se emociona com a expectativa da noite que se aproxima. Assim é Nova York. Todo dia uma atração. A cidade que nunca dorme. E como diz minha grande amiga e escritora, kátia Gerlach, os pés do imigrante nunca tocam o chão.

Então, eu me rendo e deixo a Big Apple me carregar nos braços.  E deixo com vocês este texto aqui

Dailza Ribeiro é escritora, cantora/ compositora. Iniciou sua carreira no Rio de janeiro e recentemente mudou-se para Nova York. Criada no Rio de Janeiro, a artista traz para dentro de suas criações o ritmo, a inquietude e a variedade cultural do burburinho carioca. Geminiana, espiritualizada e sonhadora, Dailza está sempre em movimento. Uma camaleoa assumida. Seja através de suas músicas ou de seus textos, seu maior desejo é alcançar o outro e deixar um legado de beleza e inspiração. Sua obra pode ser encontrada no website: www.dailza.com.br.

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