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Foto do escritorDo Rio pra cá

Soltando as amarras

Atualizado: 28 de out. de 2019


Tudo começou há 18 anos, quando nos conhecemos velejando pela Baía da Guanabara.

A nossa primeira viagem juntos foi no Rio 20, um pequeno veleiro alugado, que nos rendeu belos passeios por Paraty e a vontade de uma vida à bordo. Foram as minhas primeiras experiências com barco à vela, eu sempre amei o mar, mas nada sabia sobre navegação.

Um ano depois, estávamos a procura do nosso primeiro barco, encontramos o Mystic, um Fast 310. Foram 3 agradáveis anos velejando entre Rio, Angra, Ilha Grande, Paraty e Ilha bela, entre outras experiências náuticas... Eu me habilitei para Mestre Amador (navegação costeira) e o Gustavo para Capitão (navegação oceânica).

Em 2005, chegou o Antônio, nosso único filho, e vendemos o Mystic.

Algo ficou faltando, o sonho de viajar e morar a bordo seguiu sendo desenhado na imaginação até encontrarmos em 2012, o Veleiro Alforria, um Fast 410. Nos sentimos atraídos pelo barco e pelo nome! Alforria simboliza nossa proposta e deu nome ao nosso projeto de vida. Desde a aquisição, Gustavo seguiu preparando o Alforria para a grande aventura!

Para mim, ainda faltava a coragem! A tal que faz sonho virar destino. Eu pensava nas renúncias que teria que fazer, na vida confortável da cidade e na profissão que eu tinha. Por outro lado, eu não gostava da rotina, da falta de tempo com a família, do cansaço que tomava conta do meu corpo e fui entendendo que a vida é feita de perdas e ganhos. E finalmente, em abril de 2016, soltei a nossa maior amarra! Deixei o meu trabalho e uma carreira bancária de 20 anos!


Não, não foi fácil.

O primeiro mês foi um sentimento de férias, eu precisava de descanso e me sentia livre! Depois, as fichas foram caindo... uma leve tristeza, um sentimento de perda. Como vou viver sem trabalho, sem rotina e salário? Senti medo.

Aí veio a necessidade de ampliar conhecimentos, estudar sobre investimentos. Meu "pé de meia" teria que durar e eu não sabia por quanto tempo. O “impeachment” da Dilma veio ajudar em boas decisões.

Crise, tempos de oportunidade.

Dois meses depois, estava fazendo processo seletivo para um outro grande Banco... e me perguntei? Eu quero mesmo a minha antiga vida de volta?

E sabe qual foi a resposta? Não. Não quero. Quero uma vida diferente. Mas qual? Não sei. Quero viver.

E falei para o Gustavo: a nossa hora é agora, não podemos passar a vida com vontade, sem realização.


Assim encerramos o 1º semestre de 2016 com nossa decisão tomada.

O 2º semestre de 2016 foi de muuuito trabalho. Sim, realizar sonho dá trabalho! Toda nossa vida burocrática foi digitalizada. Passos importantes foram dados: matrícula na nova escola, endereço alterado, plano de saúde, desapegos... etc. Participamos do XIV Simpósio de Segurança do Navegador Amador com treinamento no mar.

Encerramos o ano escolar do Antônio, o ciclo do Colégio Notre Dame desde o maternal, se fechou com a 1ª Comunhão.

Curtindo a família e os amigos cada minuto. Para mim, todo encontro parecia uma despedida.



Partimos para nossas primeiras viagens já morando a bordo, passamos o ano novo 2016/2017 na Ilha do Sandri e depois Ilha do Cedro. O Carnaval na Praia da Tapera e muita diversão. A Baía da Ilha Grande foi o nosso quintal. Depois seguimos para Palminhas, Lopes Mendes e rumo ao Rio. Fizemos pintura de fundo e voltamos para Angra já com os planos de seguir viagem com os primeiros destinos definidos: Abrolhos, sul da Bahia, Baía de Camamu e Salvador.

No dia 20/ Março, estávamos no ICRJ subsede de Angra e recebo um telefonema: Minha mãe caiu no metrô. Está no hospital e machucou a perna. Vai fazer um curativo e voltar para casa, eu pensei.

Mas não foi assim.

Quase um mês internada, duas cirurgias, fratura exposta da tíbia e fíbula e muita preocupação. Uma haste na perna, uma nova realidade. Sempre com muita força de vontade, minha mãe saiu desta melhor do que entrou! Mas foi um baita susto! Fiquei um bom tempo sem pensar no Projeto Alforria.

Logo depois, outras questões familiares nos fizeram adiar nossa viagem, mas não desistimos!

E quando tudo estava pronto! No dia 27/Julho, navegando de volta para o Rio, eis que o Maná veio ao nosso encontro logo na saída do Porto Bracuhy.

O destino tem suas obras.

Rolei a escada do barco, quebrei quatro costelas, voltamos para o Bracuhy e fui conhecer uma comunidade náutica de solidariedade, que nos trouxe muitos ensinamentos, amigos e nos preparou ainda mais para o nosso novo caminho. E por lá passamos 2,5 inesquecíveis meses, enquanto me recuperava do acidente.

Mesmo com as dificuldades e obstáculos, quando estamos de cabeça e coração abertos, quando aceitamos sair da nossa zona de conforto, a vida nos presenteia o tempo todo!

Uma amiga apresentou nosso Projeto à produção do “Famílias ao Ar Livre” do Canal Off e tivemos a oportunidade única de participar do programa. Foram três dias intensos de filmagem no Saco do Mamanguá e na Praia Grande de Cajaíba, orientados por grandes profissionais da Cinemauro.


Nosso episódio foi ao ar no dia 31/ Outubro. Eu e Antônio estávamos no Rio na casa da minha mãe. Gustavo já havia zarpado com o Alforria para a Bahia, nosso destino para o próximo verão!

Vendo o nosso programa, pensei... é isso aí! Não tem mais volta.

O efeito de nos ver na TV falando sobre o nosso sonho me deu a clareza de que o Projeto Alforria começou! Tá no ar e tá no mar!

Em seguida, eu e o Antônio fomos ao encontro do nosso amado capitão Gustavo e do Alforria em Salvador.

Estamos há quatro meses curtindo a Bahia e seus encantos, vivendo momentos que sonhamos e conhecendo pessoas maravilhosas!

Desde então, a minha vontade de escrever sobre nossos dias só cresce, assim como a alegria por ter tomado cada decisão para chegar até aqui e feliz por saber que ainda há uma longa travessia pela frente, pois nosso roteiro inclui o Nordeste brasileiro, Caribe, EUA e Europa, sem tempo definido para voltar.


Fui inspirada por algumas histórias e me motiva contar nossa experiência através deste e outros textos, talvez ainda de uma maneira formal, resquícios de uma vida séria que eu tinha, mas sigo tentando reconstruir e retribuir toda energia boa e a dose de coragem das famílias que compartilham suas vidas a bordo.

Para quem quiser conhecer mais, tá quase tudo no nosso blog e canais sociais.


Paula Monte Alto: Sou mãe, esposa, sagitariana feliz, tenho 43 anos e nasci no Rio de Janeiro. Fui bancária por 20 anos e hoje moro a bordo de um veleiro, fazendo o que sempre sonhei, viajar por ar e por mar! Criadora do Projeto Alforria, gosto de gente sincera, da cor azul, navegar, fotografar e escrever! 💙⚓🐬 Amo minha vida, minha família e meus amigos.

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