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Lembro-me nitidamente do momento em que eu arrumava minha mala verde e grande para partir rumo a Inglaterra. Trancada no meu quarto que eu dividia com a minha irmã mais nova e que antes eu dividia com a irmã mais velha, (coisas de filha do meio) eu colocava cuidadosamente cada peça de roupa como se colocasse um plano e um sonho, um plano e um sonho. Enfiados na mala o ideal e a pretensão do amor. Amor que estava me esperando em algum lugar da Inglaterra. Uma alma também perdida e infeliz feito a minha à espera da minha chegada.
Um dia, uma coincidência aparente nos colocaria frente a frente e nos encontraríamos, finalmente. De uma certa maneira, o amor foi que me tirou dali de Minas. Ou talvez a falta dele. Ou talvez a falta de compreensão do que é o amor. Ainda não sei. Amor de família, de amigos, isso eu tinha e tenho, em uma abundância que até me comove. Mas eu queria o que nunca ia achar: um amor romântico na sua perfeição. Um amor que tivesse os mesmos interesses que os meus, os mesmos gostos, os mesmos objetivos e os mesmos princípios.
Rumo a Inglaterra, chegando na Europa, dez dias depois do ataque nas torres gêmeas de Nova Iorque, eu encontrei romance. Aqueles primeiros meses quando tudo é tão lindo que você acha que não pisa no chão. Mas a tal danada da rotina, dos horários, do trabalho, das pressões, do dinheiro, da vida que se apresenta, dão um jeito de entrar no meio do romance mais ideal e nos colocam no nosso lugar. Nos mostram que não adianta muito achar e querer toda a perfeição. Uma hora ela desmorona, simplesmente porque ela não passa de uma ilusão. Uma vontade feita por nós mesmos.
Mas aí, o danado do tal tempo tráz também um presente. Ele nos mostra que naquela mala verde, lá em Minas, recheada de brigadeiros e josefinas feitos com amor de fato, não estava o amor lá de fora. Estavam a esperança e a aposta que eu tinha em mim mesma. A vontade incontrolável de dar certo. E com a oportunidade que eu tenho de olhar pra trás e ver o tempo que era, passar os olhos no caminho e deparar-me com o tempo que é hoje, gosto de pensar que encontrei o amor. Já encontrei alguns dos meus erros e acertos e encontrei até uma pessoa com gostos e interesses bem diferentes dos meus. Temos princípios e objetivos comuns, mas temos objetivos só nossos também.
E nessa imperfeição que é o amor, dá pra ser feliz. Mesmo que a felicidade seja uma alegria rápida que passa e você nem vê. Mesmo que a alegria tenha pressa e você perceba ela indo embora. E quando a euforia passa, tem gente que tem uma mão pra dar. Seriam a sorte e o amor que vêm com o tempo? Ou talvez sejam o tal carinho e o tal respeito mútuos. Aquilo que lá atrás a gente imaginava chamar amor. Mas isso não é pra qualquer um. Uns têm amor. Uns têm sorte. Outros têm tempo.
Free photo by pixabay "Meeting place", escultura na estação de St Pancras, Londres