Depois da tempestade vem a bonança, depois do inverno, vem a primavera.
Ontem inauguramos o terraço do nosso apartamento. Os móveis chegaram à tarde e logo depois, a família. Todos ávidos para jantar ao ar livre, suspensos por quarenta e cinco andares, olhando o sol avermelhar os edifícios envidraçados da Big Apple. Morar em Nova York tem destas coisas. E a natureza foi doce. Nos presenteou com uma brisa suave, um pôr de sol rosa-alaranjado.
Como toda pessoa acostumada aos trópicos, viver no hemisfério norte tem sido um aprendizado. As emoções se atropelam enquanto o corpo se ajusta às diferentes temperaturas. Os olhos se acostumam ao colorido de cada Estação. É preciso sabedoria para se vestir. É preciso força de vontade para manter a rotina nos tempos gelados e nos tempos de calor abrasador.
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Agora é primavera e isso me faz lembrar da música de Tim Maia: baby é primavera, te amo... Sim. A primavera faz a gente voltar a amar tudo. Levantar cedo e sair no terraço. Sentir o sol no rosto, no corpo que passou sete meses coberto. Doce Primavera. Tão gentil com nossos olhos. Primavera tão desejada quando o frio começa a nos levar à loucura. Do dia para a noite, o mundo explode em flores, em verdes ton sur ton. A força das plantas. Os filetes cor de esmeralda brotando da terra e dos galhos que pareciam mortos. Pássaros, patos, gansos ocupam-se dos filhotes, coisinhas lindas, novinhas em folha. Coisa incrível de se ver!
As pessoas demoram-se nas ruas. Shorts e camisetas reaparecem. Se a brisa sopra mais fria, um leve casaco resolve. Minha jaqueta jeans vira uniforme até que o calor abrasador do verão espante todo e qualquer agasalho. Os parques revivem. Os sobreviventes do longo inverno aproveitam o sol, cada segundo que podem. Se estiram nos gramados. Se encostam nas paredes dos edifícios e levantam os rostos feito girassóis. A cidade vibra diferente.
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Enquanto caminho pelas ruas, me parece inacreditável que a poucas semanas estávamos desesperados de frio. Como se fosse um sonho. Outra vida. Outra cidade. Isso me faz pensar na vida. Como é fácil esquecer as coisas.
Desde que vim morar em Nova York, o inverno em me ensinou a hibernar. Foi um momento de reflexão, de movimentos cautelosos e restritos. Dias curtos. Noites longas. A inspiração tirou férias. Talvez estivesse por aí em alguma caverna cheia de pingentes de gelo. Os dedos ficaram preguiçosos. Um tempo de muita leitura. De observar. De aprender com as plantas e os bichos. Saber que é preciso pausar, repousar, esperar.
Junto com as flores, voltou a escrita. Veio forte. Imperativa. Dona das mãos e da mente. Tempo de florir. De criar sementes. Brisa gentil. Palavras constantes. A primavera da escrita. O ponto verde na terra escura. Tempo de deixar aparecer o que estava adormecido.