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Hylka Maria

Morar fora do país sem ticket de regresso

Atualizado: 7 de fev. de 2021


Quanto da sua história reside em algo material?

Como se preparam duas malas de 23kg para uma viagem de tempo indeterminado?

Quanto da tua bagagem emocional pode ser guardada em bolsas?

Pensando no futuro, focada no presente.. o que levar e o que deixar do seu passado?

Sempre me achei muito objetiva e prática na hora de organizar uma viagem. A cada ano, tenho cada vez mais engajamento numa rotina de consumo mais consciente. Tenho me trabalhado arduamente para me afastar dos excessos.Só que desta vez, juntar meus trapos pra zarpar outra vez do Brasil foi um desafio diferente. Inédito pelas novas variantes. Já andei falndo disso por aqui.

Pela primeira vez na minha vida, estou indo morar fora do país sem ticket de regresso.

O frio na barriga é outro. Bem diferente deste daqui.

As despedidas tem um tom diferente, mesmo sabendo que nada é pra sempre.

As possibilidades voláteis de voltar a residir no México ou quem sabe em Buenos Aires, me forçam a viver o presente com outra ousadia.

Como meu atual projeto profissional ainda não tem data oficial de início de filmagem , minha sensação diária é a de que não tenho o controle de nada sobre o meu futuro. E desta vez, nem sequer do meu CEP.

Passeando pela incerteza do futuro e a dificuldade do que levar de roupas e objetos pessoais do meu passado, resolvi focar na minha “mala invisível”. Aquela que balança nenhuma pode pesar, que fita métrica nenhuma pode medir e que compania aérea nenhuma pode reclamar.

Nesses ultimos dias de Rio, aproveitei pra colher aromas, sabores, texturas, lugares que sinto falta quando estou a quilômetros daqui.

Foto: @ighelal

Antes de botar o pé no mundo de novo, num processo solitário, de certo luto e também por isso, cheio de beleza, peguei minha bike e dei um rolé por essa cidade absurdamente estonteante e infelizmente, cada dia mais falha. Que independente do rótulo que receba, é única, e sempre faz falta.

Açaí, pão de queijo, biscoito de polvilho.

A orla, a onda, a senhora engraçada da barraca de praia, o comercio de Copa, a Lagoa. Meu Humaitá provinciano, com marra de elitista. O garçom tranquilão, o pão francês quentinho com mortadela, Arpex, o ônibus que me leva pensativa na janela.

O olhar eloquente das minhas amigas. As piadas internas com meu irmão.

O barulho do sapato do meu pai quando caminha pelo corredor, o mingau de Cremogema com canela, que só minha mãe faz.

Foto: @ighelal

Na mala invisível, cabe tudo.

Do lado de dentro, levo tesouros.

Que me abastecem e me nutrem, quando distante dos meus, se tornam meu refúgio. E lá vou eu morar fora do país sem ticket de regresso. Watch out!

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