Tenho evitado escrever. Tudo o que pretendo dizer sobre o Rio de Janeiro nos últimos dias, nas últimas semanas, me remete à política. Hoje, domingo, dia de eleição, acordei cedo, como faço todos os dias. Tomei banho, fiz café, vesti uma camisa branca, fui pra rua, peguei o metrô. Tentei decifrar nas pessoas que cruzavam meu caminho, algum conforto, um sinal de que haveria esperança nestas eleições. Quase ninguém de branco. Alguns de vermelho, outros de preto, poucos com camisas do Brasil, menos ainda com camisetas de candidato.
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Andei em silêncio pela rua, em direção ao colégio onde votei por tantas vezes. No trajeto, pensei que nunca votei em branco ou anulei voto. Tive orgulho de mim como cidadã brasileira. O colégio onde votava estava fechado. No portão, o endereço de outro lugar. Segui, andando em silêncio com meus pensamentos. Chegando lá, fila. Fila enorme e gente furando, ignorando, mentindo que precisava passar pra “tirar dúvida”, “pedir informação”. Pensei que seremos um povo muito atrasado enquanto agirmos assim, passando por cima dos outros, ignorando a vez de quem chegou antes. O processo de subida para a sala de votação andava junto com meus inúmeros pensamentos.
Quando cheguei na urna, abri minha “cola”. Apertei cada número de candidato, conferi nomes e rostos. No voto pra presidente, chorei e me surpreendi com a reação inesperada. Nunca tinha passado por isso. Apertei os dois números sabendo que, pelo Ibope, a pessoa que acredito está tão longe dos votos válidos. E, com a distância, se afastam também meus sonhos e o desejo de um país melhor pros meus filhos e pras crianças que vi nas ruas, de mãos dadas com os pais. Eu sinto muito medo, pela primeira vez. Medo de que estejamos todos levando o nosso país já tão depauperado, pro fundo do poço. Na volta pra casa, no silêncio da minha solidão, eu cantei o hino nacional... “...mas se ergues da justiça a clava forte, verás que um filho teu não foge à luta, nem teme quem te adora a própria morte! Terra adorada! Entre outras mil és tu, Brasil, ó pátria amada...” - Persistamos. Um país melhor pra você que nos lê.