Tudo está no lugar certo, encontrei o caminho de casa aqui na Alemanha. Até semana passada andava por aqui determinada em decifrar cada esquina deste mundo novo. Tem coisas que a gente não entende quando se aventura a partir. Este ano fez 10 anos que casei, comecei a migrar e me tornei estrangeira. Pensando bem, sempre fui. Estrangeira. Cada ano saia do Rio pra cá, primeiro uns dias, um mês, uns meses, um semestre…aos poucos, parceria doer menos. Soltar as amarras para de verdade partir, é um processo.
Photo by Mayara Manhani
Tão acostumados estamos com os nossos “territórios”… E de repente o desterro, sua pátria ficou para trás. Bem longe do agito da Mureta da Urca, dos prédios altos, dos sons mais altos ainda, do trânsito caótico, dos ônibus a diesel que tornam o ar pesado, dos mares e rios poluídos, da manicure toda semana, da faxineira amiga que te dá um help na cozinha e com a roupa, da falta de tempo e o sempre se estar atrasado. É, tentar se encontrar em um lugar que não reconhece como seu, é desafiador ou desesperador. Estamos divididas em metades. Uma que fica, e outra que vai.
E como faz pra ocupar espaços desconhecidos? Eu nasci em Porto Alegre e a família se mudou quando tinha 5 anos. Cresci no Rio de Janeiro onde o mar faz shazam com minha alma , admito. Abrir mão de afetos, do que trilhamos, dos risos altos, abraços e beijos, do calor que sempre reclamamos, nos faz uma falta danada quando estamos longe. Na mala de rodinhas a gente carrega o que consideramos indispensável, e no HD do coração um monte de sonhos, expectativas, angustias e medos. No começo a gente se pergunta qual o real sentido de deixar tudo para traz, e se o amor que te deu asas era só pretexto, um alibi para seguir um sabe lá o que.
Eu sou o amor, sem começo e fim, inscrição no Marienheilgarten;
Desde que cheguei por aqui, na Alemanha, mas especificamente na Bavaria à 5 anos, me pergunto o que vim fazer aqui. Aquele papo de missão, sabe? Sabia que deveria estar aqui, mas por que? Depois dos primeiros choques e resistências, fui afrouxando e deixei fluir. Ganho menos dinheiro, tenho mais recursos e nunca mais fiquei no negativo. Mudei minha rotina, aliás, mudamos. Nosso tempo mudou, tenho um pequeno jardim, ando pelas trilhas sozinha sem medo, e ele sai por ai pedalando. Criei um site com outras brasileiras e comecei a escrever, fotografar, gravar. Resignificar...
Estrangeira, desde pequena. Minha curiosidade com outras formas de viver foi alimentada por minha vó e mãe que me abriram a porta para conhecer diversos “mundos" e crenças. Passear por universo sutis era papo de família e que me levou a muitos estudos. Logo, alguns assuntos me são instigantes e tratei de tentar me localizar por aqui assim que cheguei. Kraftort- lugares de força e poder é este por aqui. Vim parar no meio de um conjunto deles. Uhuuuu! Nestes anos por aqui, visitei e sintonizei com alguns deles e me senti de novo inteira.
Mas de que adianta o saber sem poder compartilhar? A quem isso interessava?
Photo by Angela Escada
E de repente chegaram elas. Com os ventos do Outuno. Eram muitas, de muitos lugares e infinitas histórias. Durante 10 dias me coloquei a disposição para servir de guia para as brasileiras por este mundo outro, tão meu já.
Photo by Mayara Manhani
E foi um “tsunami” de encontros, emoções, magia , curas e gratidão que é impossível de descrever. Inúmeras vivências em diversos lugares, desde a salmoura do centro da cidade ;
E seguindo ao Jardim de cura de Maria-Marienheilgarten;
passando pela ilhas dos homens e das mulheres no Chiemsee- Herrenchiemsee e o suntuoso Palácio Real inacabado...
...e a intimista Frauenchiemsee com seu convento Beneditino de 789;
Até uma subida à montanha com o Predigststuhl, com o teleférico mais antigo do mundo e um dos mais bonitos.
Finalmente chegamos ao Hertzsein- o chacra do coração do planeta.
E não faltou uma aventura em Salzburg para fechar o encontro. Mais harmônico impossível. E como foi intenso.
Free photo Pixabay
Ao final da jornada, uma sensação de dever cumprido e de total pertencimento. Finalmente eu sou daqui, encontrei o caminho de casa. Graças a vocês...
Photo by Mayara Manhani
Sim, existe quem não creia em bruxas, pero que las hay, las hay! Saludo hermanas.
PS: Este texto é para todas que me fizeram a clássica pergunta: Como veio parar aqui?
E pra você que me lê, passa no nosso Facebook , são tantas histórias pra acompanhar...