
Nunca tinha dado muita atenção à placa "Victorian Cemetery" aqui em Londres, a poucas ruas da minha. Hoje saí pra almoçar com uma amiga e na volta decidi ir lá ver que cemitério era esse.

Tenho imenso respeito por túmulos. Aquele monte de vozes caladas, marcadas com nomes que tentam, através de identificações, viver pra sempre. Uma placa informava que ali, naquela pequena floresta, 6 mil corpos foram enterrados, a maioria no século dezenove. Fascinada pelo silêncio quebrado apenas por alguns passarinhos e esquilos, olho ao meu redor.

É um cemitério estranho não só por ser muito velho, mas pela forma desordenada dos túmulos. Não há lotes, esquinas, nada. Aleatoriamente túmulos muito simples com lápides tentando explicar o tamanho da vida de quem foi. Alguns só com as datas de nascimento e morte e me emociono. Faço conta dos anos vividos e imagino quem tenham deixado pra trás. Piso em um ou outro túmulo, não propositalmente, mas é mesmo difícil identificar onde não há gente enterrada.

A cada leitura de nomes inteiros imagino um rosto. Numa das lápides leio "Henry, irmão favorito de Jane". Chego mais perto, as letras estão desbotadas, é difícil ler com clareza. Fico imaginando o irmão favorito. E por que será que ele foi o preferido dela? Quem teriam sido esses irmãos.

Coloco meus óculos e ouso chegar bem perto. Diante de mim, o sobrenome daquele que era o irmão favorito de Jane Austen. Enterrado aos meus pés Henry Austen que tanto incentivou a irmã a escrever. Ela morreu antes dele. Mas feito a louca do cemitério, disse pra ele que Jane paira hoje pelo mundo inteiro e pra ele descansar em paz. (As fotos que eu acabei de tirar no Victorian Cemetery em Londres).
A gente vai gostar.