Soltamos as amarras de uma vida tradicional na cidade grande e fomos experimentar uma vida a bordo, e foi assim que no início de 2017 nos mudamos para o veleiro Alforria.
Mas o que eu, Paula Monte Alto, levo para viver num barco? O que precisarei? Quantas roupas? Não sabia as respostas. Levei tudo o que eu queria e em menos de um ano tirei o excesso. É preciso bem pouco para viver de forma desprendida. A nossa expectativa é maior do que a real necessidade.
Entre Rio de Janeiro, Angra dos Reis, Ilha Grande, Búzios, Vitória, Baía de Camamu e Salvador, vivemos na costa brasileira até Outubro de 2018 como conto por aqui.
E tomamos outra decisão ainda mais audaciosa, compramos um novo barco, mais confortável, com mais autonomia e segurança e fomos buscá-lo na França.
Chegamos na cidadezinha de Sables d’Olonne no norte da França para providenciar tudo o que precisávamos.
Alugamos uma pequena, simpática e antiga casa de pescador toda reformada. Por lá, tivemos bons momentos. Recebemos amigos com muita alegria, vinho e cantoria.
E, finalmente, o nosso novo Alforria chegou e pudemos experimentar nossa nova casa no mar.
Nossos desafios pela frente eram grandes. Não tínhamos experiência em velejar de catamarã e passaríamos por lugares que nós nunca havíamos navegado. Tudo novo! Ansiedade, agitação e adrenalina eram os sentimentos.
No dia 4 de Dezembro de 2018, soltamos as amarras e cruzamos o nervoso Golfo de Biscaya em condições extraordinárias de calmaria e em pleno inverno europeu.
Navegamos na costa das Astúrias e Galícia, com uma breve parada na cidade de Gijón, comemoramos o meu aniversário passando pelo temido Cabo Finisterre!
Navegamos na linda costa portuguesa e passamos tão pertinho do Cabo Carvoeiro com mar de azeite, como gosto de chamar quando não há vento algum e o mar fica lisinho.
Nosso dia-a-dia de viagem era agradável, com boa alimentação e sempre uma sopinha quente para a noite fria e a madrugada de turnos, onde sempre há alguém de vigia e olhos bem abertos!
Navios, pequenas embarcações, equipamentos eletrônicos, velas e o rumo precisam estar sob a nossa atenção e controle.
Chegamos em Lisboa e por aqui passamos uma boa temporada com amigos e mais vinho!
A vida a bordo segue a rotina de uma casa entendida como “normal”, cozinhar, limpar, arrumar, estudar, ir à lavanderia, lavar louça, fazer manutenções, entre outras tarefas. Porém, com algumas restrições como economia de água, energia e otimização do lixo que produzimos.
Geramos a nossa energia, por meio das placas solares ou dos motores que alimentam as baterias. Ainda não produzimos nossa água, pois não contamos com equipamento para tal, e precisamos encher os 600 litros dos tanques na marina ou nos postos de abastecimento e fazer durar o maior tempo possível.
Passamos mais tempo curtindo cada porto que atracamos do que navegando, mas quando o momento de zarpar se aproxima, o friozinho na barriga é sempre igual
Abastecer o barco de água, combustível e suprimentos para alimentação, planejar rota e verificar as condições climáticas é essencial. Se o tempo está favorável, soltamos as amarras novamente!
Chegou a hora de partir de Lisboa e a despedida foi um passeio pelo Rio Tejo, levando amigos até Cascais, onde desembarcaram e nos despedimos!
O nosso rumo foi Gibraltar, onde ficamos poucos dias. Foi especial passar por este canal marcado por disputas ao longo da história da humanidade, afinal é a entrada do Mar Mediterrâneo, onde se concentrava toda a rota comercial da civilização ocidental.
Partimos novamente, agora o rumo para as Ilhas Canárias, um arquipélago na costa africana.
E de lá, proa para o Caribe!
Cruzamos o Oceano Atlântico em 21 dias, o frio foi ficando distante e o calor dos trópicos se aproximando... menos roupas, mais banhos de mar e as sopas noturnas sendo substituídas por lanches reforçados e frios. Frutas e legumes frescos duraram até a metade da viagem.
Chegamos na Martinica, nosso primeiro porto caribenho. Da França até aqui tivemos a presença de um bom amigo e reforço na tripulação.
Começamos nossas velejadas entre as ilhas somente durante o dia.
Porthsmouth na Dominica e o convite para uma típica festa caribenha!
A linda Guadaloupe e as maravilhas das ilhas francesas! O charmoso arquipélago de Les Saintes.
Chegamos em St Marteen, onde conhecemos a comunidade dos Brazucas e os resquícios do furacão Irma cada vez mais presente.
Rumo para as Ilhas Virgens Britânicas com a lua de Buda nos iluminando numa linda e clara noite. Uma breve estadia e a vontade de voltar logo!
Navegamos na costa de Porto Rico e República Dominicana, no canal que separa estas ilhas, conhecido por sua forte correnteza, um sustinho quando o Alforria surfou uma onda e atingiu a velocidade de 14,4 nós, barbatanas de tubarão passando bem próximos do casco e na manhã do dia seguinte, um raio caiu bem próximo do barco. Foi tudo muito rápido e trouxe um pouco de tensão.
O tão sonhado arquipélago de Turks and Caicos logo ali na proa... de uma beleza indescritível!
Da simplicidade e alegria de sermos bem recebidos pelos nativos em South Caicos ao conforto de uma marina em Providenciales e, no caminho entre uma ilha e outra, a adrenalina de navegar pelo banco com profundidades entre 2 e 3 metros, águas cristalinas, areia branca, pedras e corais visíveis aos olhos.
Assim encerramos nossa primeira temporada no Mar do Caribe e voltaremos com mais aventuras para compartilhar!
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