A menor distância entre dois pontos nem sempre é uma linha reta. Parece uma constatação óbvia e boba, mas no trato do dia a dia ela é preciosa.
As diferenças culturais que nos cercam quando a gente muda de cultura podem ser gritantes, e confesso que para mim estão sendo mesmo. Nem bem fazem dois meses que estou morando em Londres e já começo a sentí-las.
Uma coisa é como turista você se adaptar e levar numa boa, outra coisa é residir e se deparar com a nova cultura o tempo todo e não levar para o pessoal as situações enfrentadas. É, ai cai a ficha que você foi morar fora do Brasil e terá que se adaptar a uma nova realidade.
Vai pedir um café todos os dias no mesmo lugar com a mesma pessoa?
Se quem te atende não for imigrante também, é bem provável que o grau máximo de intimidade seja um sorriso discreto de eu reconheço você e já está.
Reservou uma mesa para comer em algum restaurante? 1h30/2h no máximo, e contados no relógio: a conta chega mesmo sem ter sido pedida. Como assim? Mas ainda nem pedimos a sobremesa... ok, fica para outro lugar porque já tem gente esperando para sentar no seu lugar e com hora marcada também.
Nunca pensei que fosse possível ser convidada para beber 1 copo e ser só 1 mesmo. Aqui muitas vezes é. Até um churrasco, que já não é um programa assim tão comum, ninguém bebeu! Além de mim e do meu marido, claro. Como assim? Churrasco raiz é desculpa para beber com direito a carreteiro com a sobra. Que nada!
E chegar ao estádio de futebol com lugar marcado, procurar seu lugar exato e dali só levantar para comemorar ou no intervalo do jogo? Já aconteceu também com show de música, sentadinha cantando animada e levo um cutucão. Nessa hora a vontade que dá é de dizer – Sorry, I don’t understand you. (a pessoa vai achar que é a língua, mas o que não entendo mesmo é não cantar junto nem me contagiar com a música).
Enfim, diferenças à parte, a gente se adapta, mas leva um tempinho até se acostumar. Parece tudo sempre meio distante, muita objetividade e bem pouca euforia. Hoje eu consigo entender porque as “comunidades” de imigrantes se juntam, você se cerca dos seus, e nada mais natural para nós do que um abraço para cumprimentar alguém. Nem pense nisso, a não ser que você tenha de fato intimidade com a pessoa. Ou faça direto sem pensar, pode ser que você receba um recuo.
Mas se tem uma coisa que temos a nosso favor é a espontaneidade, e isso deixa os ingleses tão sem graça quanto nós ficamos com esse distanciamento deles.
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