Dia das mães e eu aqui de novo refletindo sobre a maternidade.
Nunca carreguei por 9 meses uma vida dentro de mim. Nunca senti as dores do parto ou as angústias da "boa hora". Nunca também fui obrigada a gerir o que não desejava e condenar em vida outra vida. Não seria o aborto o pior do abandono? Nunca recebi presentes, telefonemas, flores ou almoços de domingo em maio.
Acordei pensado nisso,. Me veio aos olhos a imagem de uma grande fila de mulheres, encabeçada pela minha mãe, a mãe dela, a mãe da mãe dela.
Não, não fui mãe.
Não queria repetir a história delas e isso sempre foi muito forte em mim. Pensei nos filhos e nas filhas delas: uma fila comprida até chegar em mim. Quanta dor, sonhos, lutas e desafetos. Quantas histórias de medos e frustrações.
Sou filha de várias gerações de mulheres que, de certa forma guerreiras, foram acostumadas a seguir em frente, custasse o que custar. Foram criadas com medo de afeto. Algumas casaram por conveniência e poucas, talvez nenhuma, por amor. Era comum.
Eram duronas e nem sempre transmitiram afeto. Passaram a vida inteira buscando o colo primordial, o peito que nutre, o abraço sem cobranças e um sorriso largo onde a simples presença esquentava a alma. E como tinham dificuldade de mostrar afeto, esse sentimento foi, e ainda,é o legado deixado.
Não, não fui mãe.
É a eterna luta por sermos indivíduos e buscarmos ser aceitos como somos. E apesar das diferenças e distâncias, receber um beijo e muitos abraços. E quem sabe, um colo, o prêmio maior. Cresci e intuitivamente transbordei afeto. E como que por mágica, quanto mais dava, mais recebia.
Sim, sou feita de colos, abraços, beijos. Cresci cuidando de todos como gostaria que cuidassem de mim: com atenção, afeto, mediando os conflitos, arranjando saídas, estando ali para o que viesse. E tentando de novo!
Depois chegaram os amigos, os alunos, os companheiros, os filhos da vida, os filhos dos amigos, os sobrinhos, o marido, as filhas do marido, os netos.
Pelo afeto desenvolvi uma inteligência emocional que norteia minha vida em todos os sentidos.
Sempre fui a conciliadora, aquela que cuida. Me dói no peito o desafeto, a raiva, a cobrança, o abandono e, sobretudo, a falta de escuta e empatia.
No fundo, bem no fundo, todos nós queremos ouvir a mesma coisa. Nada é mais poderoso, curativo e revigorante do que um "EU TE AMO!” Nada.
Não, nunca fui mãe.
Mas tenho um coração cheio delas. Dedico muitos dias de celebração para todas as mulheres que são capazes de gerar vidas em todos os níveis.
Fotos: acervo pessoal e Pixabay.
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