Daquelas coisas que a gente só se dá conta quando está fora do país. Não sei se isso acontece com vocês, mas comigo já e algumas vezes. Nesse domingo, 13 de fevereiro, quando a Semana de Arte Moderna de 1922 faz 100 anos, me vi refletindo sobre um passeio a Buenos Aires há alguns anos. Já andei comentando por aqui sobre essa viagem. E, por um motivo que aparentemente não teria nada a ver com essa cidade da Argentina.
VERÃO EM BUENOS AIRES
Lembro do calor que senti exatamente no mês de fevereiro. Nunca havia visitado a cidade e me espantei com o sol quente sobre a minha cabeça e com o inchaço dos meus pés. E, olha, que sou carioca. Precisei até comprar um par de sandálias bem confortáveis. É minha gente: faz calor em terras portenhas.
Um dos passeios que eu mais ansiava era a visita ao MALBA, Museu de Arte Latino-Americano. Segundo o próprio o site do museu, sua missão é inspirar novas visões da América Latina. Foi fundado e é administrado pela Fundación Malba. Só o prédio da Avenida Figueroa Alcorta já é uma visão e tanto: bela arquitetura.
No dia que meu marido e eu fomos ao museu, para variar fazia muito calor. Quando entrei já me senti abraçada pelo ar mais fresco e aconchegante do local. Muito espaço, pé direito alto, espaçoso. Caminhando pelos corredores me deparei com o quadro Abaporu - em tupi-guarani homem que come - da brasileira Tarsila do Amaral falecida em 1973. Foi um impacto muito grande. Fui me dando conta cada vez mais do valor dele e de sua autora espetacular. Sempre quis conhecer essa obra de arte.
UM POUQUINHO SOBRE TARSILA
Mesmo sem ter participado da Semana de 22 – vivia em Paris nessa época - a pintora acabou se tornando um grande nome das artes plásticas do modernismo nacional que irrompeu no ano de 1922 em São Paulo. Tarsila se desenvolveu depois do encontro com artistas modernistas. O quadro foi um presente para o marido, o escritor Oswald de Andrade, em 1928. este, sim um expoente da Semana de Arte Moderna de 1922. Inspirado no presente, ele escreveu o Manifesto Antropófago e fundou o Movimento Antropofágico.
A Semana de 22, como também é conhecida, foi um momento chave e catalizador da história da arte e da literatura no Brasil. Sua realização fez explodir a modernidade artística em um evento em São Paulo e uma outra série de acontecimentos culturais no país.
O quadro de 85 cm x 73 cm foi comprado em 1995 pelo empresário argentino Eduardo Constantini, presidente honorário da argentina Fundación Malba, por US$ 1,35 milhão, um recorde. Segundo ele: “Sem dúvida é a peça mais representativa e valiosa da arte brasileira. Sua iconicidade cresce ano a ano, como um mito também da arte latino-americana".
ORGULHO SE SER BRASILEIRA NESSE PASSEIO A BUENOS AIRES
Fiquei bastante tempo em frente ao quadro fascinada com as cores, com a figura desproporcional. Tem força e, ao mesmo tempo, uma ingenuidade nas suas formas redondas. Não sou nenhuma expert no assunto. Mas, me peguei ali meio embevecida pela imagem.
Por outro lado, me entristeci com o fato de precisar estar em Buenos Aires para apreciar a sua beleza. Por que não está no Brasil? Se bem que também me deu um orgulho danado pela importância de ser conterrânea de uma pintora do calibre de Tarsila. Acabei ficando com esse último sentimento: orgulho.
Foi como escrevi no início o post: precisei estar fora do país para sentir essa alegria e agradecimento pela existência de obras de arte como o Abaporu. Aliás, o próprio MALBA promove a partir dessa semana algumas atividades presenciais e virtuais tendo como pano de fundo os cem anos da Semana de 22.
Quisera eu estar em Buenos Aires de novo nessa época do ano e em meio a essas comemorações. E, também seria uma chance de comer de novo as empanadas do restaurante El Sanjuanino e tomar um vinho branco argentino bem gelado.
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