Quis a vida, que eu estivesse em Palmi, cidade do sul da Itália, exatamente em agosto. Mês quando é comemorado o mais importante feriado italiano, Ferragosto, no dia 15.
Conta-se que o tradicional feriado vem desde a época do reinado do Imperador Octavian Augustus que fez do 1º de agosto um dia de descanso após o intenso trabalho nas lavouras. A tradição das viagens e festas durante 13, 14 e 15 do mesmo mês se consolidou na fase do fascismo. Nos anos de Mussolini, eram promovidos descontos e vantagens para que as pessoas pudessem passear e conhecer outras regiões italianas que não fossem as suas.
Por conta desse super feriado, as estradas ficam cheias, os engarrafamentos são lugar comum, os alugueis disparam e a travessia do continente para a Sicília vira quase um pesadelo, por exemplo. Ficamos uma hora e meia na fila para entrar no traghetto – como os italianos chamam os ferryboats imensos. Enfim, foi uma coincidência. Antes dessa experiência, confesso não sabia nada sobre esse mega feriado.
Palmi, pertence à região da Calábria e fica no dedão da “bota”- o conhecido formato do mapa da Itália. Está envolta por rochedos e pelo mar Tirreno. É pequena e linda. Cheia de lendas, histórias e contos. Um deles diz respeito aos gigantes Mata e Grifone – a primeira representaria uma bela e próspera donzela e o segundo, um homem sombrio sarraceno do povo que dominava a região no século um.
Feitos em papier mâché, os gigantes ultrapassam oito metros de altura e são sustentados por uma pessoa que de posiciona na parte oca e inferior do boneco. Representam, segundo alguns historiadores, a vitória sobre os sarracenos e os piratas turcos que ocuparam a região há muitos séculos.
Existem outros gigantes em festas de rua ao redor do mundo. Não podemos esquecer dos bonecos de Olinda que desfilam nos dias de carnaval na cidade pernambucana. Os mais antigos gigantes italianos são exatamente esses que estão nas fotos e foram feitos pelo artesão Virgilio Cicala em 1885.
Nos tempos de festas e feriados, esses gigantes desfilam pelas ruas de Palmi e são acompanhados de um ritmo intenso e pulsante de uma banda de tambores. Esses exemplares pertencem à Venerável Congregação da Santíssima Maria Imaculada e de São Rocco, aliás, celebrado no dia 16 de agosto, ou seja, dentro do super Ferragosto.
As ruas da cidade são tomadas também por barraquinhas de tudo quanto é produto: de comida a bijuteria, bolsas, utensílios domésticos, brinquedos de plástico. Restaurantes, bares e lanchonetes ficam abertos até tarde. Há muita música, barulho e conversa nas praças e ruas do centro de Palmi.
Falando em comida, provei o sorvete dessa loja da foto acima, Gelateria Mont Bianco. Enfrentei uma fila grande para o provar o gelato cioccolato nero. Espetacular. Na foto abaixo, veja o brioche recheado de gelato de chocolate.
E, olha que já eram 11 horas de um estrelada noite de um verão e que parecia não quereria acabar. Soube que o povo permaneceu nas ruas até altas horas da madrugada.
Afinal, italianos gostam de festa, não é? E, sabem como fazer.
Fotos: acervo pessoal / Guiga Soares
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