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Foto do escritornaravidal

Para voltar a comer bem no calçadão de Copacabana


Há cerca de 10 anos, me lembro de caminhar pelo calçadão de Copacabana, com o namorado inglês a tiracolo, com fome e procurando um restaurante decente que servisse boa comida e não custasse muito. Era praticamente uma missão impossível.


Me lembro também de ter pensado que era uma pena que o cartão-postal do litoral carioca tivesse que contar com alguns restaurantes à beira-mar com aparência antiquada e preços questionáveis. Para ser franca, pareciam pequenas armadilhas para turistas que servem bebidas caras e que no dia seguinte você já não se lembra o nome.


Algumas semanas atrás, eu estava de volta ao Rio, de volta a Copacabana e de volta ao lindo calçadão da praia. Percebi que os restaurantes de que me lembrava bem e que tanto tentava evitar ainda estavam lá. Mas a maior surpresa estava por vir.


Nessa viagem, me hospedei no lindo Miramar Hotel, que é um hotel 4/5 estrelas de frente para a praia e com uma vista de tirar o fôlego. Lá embaixo está a praia de Copacabana, linda, sensual e sempre precisando de atenção e carinho.


Viajo muito, escrevo sobre hotéis e fico em muitos lugares deslumbrantes. Normalmente, para uma experiência gastronômica mais interessante, eu normalmente experimentaria restaurantes ou cafés que ficam fora dos hotéis.

Mas deixe-me parar por aqui, porque desta vez fui completamente apanhada de surpresa pelo restaurante Miramar, no mesmo espaço onde, horas antes, tomei o meu café da manhã.


Refiro-me aqui ao Alloro, um restaurante italiano discreto e de alta qualidade capitaneado pela adorável Michele Petenzi, que vem do Norte da Itália direto para o Rio para homenagear a experiência de comer bem calçadão de Copacabana como deve ser. Sua comida é um deleite absoluto, e eu fui muito bem tratada!

O banquete começou com o couvert, algo que normalmente não menciono, a menos que valha a pena fazê-lo. O que interessa aqui não são só os biscoitos de polvilho (lembremos do biscoito Globo, vendido nas praias do Rio), mas a manteiga com cascas de limão (foto abaixo).

Enquanto me deliciava, comendo um aparente simples pão com manteiga, lembrei-me que ainda viriam vários pratos para experimentar e que, para meu próprio bem, deveria me controlar. Mas, meu Deus, o que é essa manteiga?

É importante mencionar que toda a comida foi bem equilibrada com uma seleção de espumantes, brancos e tintos, todos da América do Sul e uma rara aparição de um bom tinto brasileiro. O vinho foi escolhido pelo sommelier e confiei nele, o que foi uma boa decisão.

O carpaccio de salmão, marinado em beterraba, era composto por uma deliciosa mousse de queijo de cabra polvilhada com amêndoas (foto acima). Quase lindo demais para comer.


Então, Michele preparou a lasanha mais interessante que já provei, que para mim não parecia uma lasanha se não me tivessem dito. Mas eu não estava lá para o comum. Feita de polenta, recheada com bacalhau tenro e cozido em forno lento, creme de cebola, anchovas e tomilho, era um primo piatto de uma delícia absoluta.

O carbonara polvilhado com bochecha de porco curada (foto acima), em vez do bacon normal, que veio depois também foi extraordinário. Morei na Itália, no sul, onde a pasta era meu arroz com feijão. Conheço uma boa pasta e, obviamente, muito mais que eu, Michele também, que preparou e apresentou este clássico de forma requintada e elegante.

Meu último prato nessa experiência sensorial foi o deslumbrante Cavatelli com ragu de cordeiro e pecorino (foto acima). Uma massa al dente perfeitamente cozida com carne vermelha rica e decadente, tudo perfeitamente combinado com um tinto encorpado como deveria ser.


Fui então presenteada com uma tábua de queijos bem elaborada e equilibrada, com queijos brasileiros dos estados do Espírito Santo, Santa Catarina, Paraíba e São Paulo, com os respectivos nomes de Duetto, Vale do Texto, Cariri e Cacauzinho. Para acompanhar um pouco de mangada e uma sobremesa tipo compota de tomate.


Para terminar, Romeu e a Giulietta (foto de abertura), mousse de queijo fresco acompanhado de geleia de goiaba e confit e toque de merengue. Uma interpretação chique de uma sobremesa muito tradicional de Minas Gerais, de onde venho. Destaque e elogios também ao lindo Tirami-choux, choux com creme tiramisu, gel de café e creme inglês.


Este é um texto mais longo que o usual para falar de comida, mas é preciso fazer justiça: foi um desfile de deleite sensorial que merece todos os aplausos e letras desta resenha.

O que Michele Petenzi faz é, de forma inteligente e bonita, colocar o calçadão da praia de Copacabana de volta no mapa para excelentes comidas e bebidas.

Já era hora!


Fotos: Acervo Pessoal


Nara Vidal é mineira de Guarani. Uma das fundadoras do"Do Rio Pra cá". Formada em Letras pela UFRJ e Mestre em Artes pela London Met University, é escritora, tradutora, professora e editora. Nara já publicou vários infantis e livros de contos. Foi ganhadora do prêmio "Maximiano Campos" na categoria conto e do Brazilian Press Awards pelo seu trabalho com literatura infantil. Mora na Inglaterra desde 2001. “Sorte" (Editora Moinhos, 2018) é seu romance vencedor do Prêmio Oceanos. É editora da revista literária Capitolina, que lhe rendeu um prêmio APCA em 2021 e colaboradora de várias publicações, como a revista Quatro Cinco Um, além de colunista dos jornais Tribuna de Minas e Rascunho.


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