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Foto do escritorCynthia Dornelles

Saudade de Lençóis, Chapada Diamantina na Bahia


Quero compartilhar com você uma viagem inesquecível: Lençóis, Chapada Diamantina, na Bahia. Um lugar lindo, com águas cor de turmalina.

Vou dar um spoiler: mergulhar nestas águas é uma coisa que atinge todos os sentidos até do mais insensível dos seres.


O COMEÇO


A cidade de Lençóis começou como um pequeno povoado às margens do rio São José com um núcleo de fazendeiros lá pelos idos de 1844 . Em seus riachos, foram encontrados diamantes, o que mudou completamente o perfil de seus habitantes, de seus hábitos e de sua economia. Em certo momento de sua história, foi considerada o centro das maiores produções de diamantes do mundo.

A intensa relação comercial com a Europa fez, por exemplo, com que o vice-cônsul da França fosse instalado em Lençóis para facilitar os negócios. Por conta desta atividade, a população quadruplicou rapidamente. Entre estes novos habitantes, os da alta sociedade decidiram construir casarões em estilo europeu, considerado o mais elegante na época.


No entanto, essa riqueza um dia acabou. Os diamantes foram escasseando e as atenções se voltaram para os descobertos na África do Sul. Muita gente foi embora. Aqueles que ficaram foram apenas os que não tinham como deixar a cidade ou que já haviam se adaptado muito ao lugar.


AINDA UM AR COLONIAL


Lençóis hoje é uma pequena cidade com arquitetura colonial como diversas outras no país. Diferente de Tiradentes em Minas ou de Paraty no Rio de Janeiro, por exemplo, seus casarões ainda abrigam moradores locais que desfrutam daquelas atitudes de avós, bisavós e tataravós, como sentar na calçada falando da vida alheia, comentar sobre se vai chover ou se vai fazer sol. As crianças e os adolescentes, por sua vez, brincam nas ruas e nas águas do rio São José tranquilamente.

Mesmo mantendo essa atmosfera colonial, atualmente, lojas e butiques ocupam também os casarões da cidade.


CURIOSIDADES


É possível fotografar as estrelas em noites claras. O céu é bastante limpo e mesmo com luzes urbanas podemos fazer fotos bem razoáveis. Não tenho uma máquina full frame e, mesmo assim, consegui registrar até riscados das estrelas com minha Canon 70D.


fantásticas bordadeiras na região. É só bater um pouco de perna para encontrar fronhas e toalhas bordadas à mão e pequenas peças com desenhos originais, um tipo artesanato cada vez mais raro.


A culinária baiana é de primeira. Come-se bem e sem esforço. A temperatura é agradável mesmo em dezembro, mês em que lá estive. Dorme-se muito bem. O hotel que fiquei se chama “Canto das Águas” e fica dentro do centro histórico. É um lugar lindo, silencioso e com uma equipe gentil. As camas têm colchões macios, os banheiros são espaçosos com duchas higiênicas. Recomendo.

O hotel, além de tudo, tem muitos passarinhos. Alguém percebeu a vocação passarinheira do lugar e sempre deixa frutinhas para os pequenos que aparecem aos montes. Ainda bem que levei teleobjetiva. Carregar lentes é naturalmente pesado, pode acabar com a coluna e com os ombros. No entanto, quando temos dentro do próprio hotel um monte de avezinhas conversadeiras agradecemos por nossa própria obstinação.


O único problema é disputar lugar com as crianças que também ficam doidas com tantos bichinhos. Mas é prático não precisar se embrenhar com figurino camuflado na mata para apreciar e fotografar esses pássaros em ação.

Fora isso, minha programação predileta foi ir à fazenda Pratinha que tem uma lagoa imensa toda azul. É um programa fácil e que não exigiu nada dos meus ferrados joelhos.


Aquelas águas são mesmo algo que nunca mais sai da memória. E, olhe, que fui duas vezes a Fernando de Noronha, muitas vezes à Ilha do Campeche em Santa Catarina, duas vezes a Alto Paraíso, em Goiás, a Almécegas, no Ceará, uma vez ao Jalapão, no Tocantins, e muitas vezes ao Arpoador no Rio. As águas da fazenda Pratinha não ficam a dever em nada.

Finalmente, uma coisa de ordem prática. Sugiro o aluguel de um carro porque não tem nada muito pertinho não. A cidade é pequena, mas os passeios são inúmeros. Devo também dizer que peguei um voo direto Rio-Salvador e depois fui também de avião a Lençóis. Há um aeroporto desde 1998. Graças a Deus, ainda não detonou o clima do local. Mal ou bem, o IPHAN (Instituto do Patrimônio Artístico Nacional) tem conseguido levar consciência aos turistas.


Dei conta da beleza da região em cinco dias. Quero voltar com mais tempo. Há mais passeios a fazer e, principalmente, mergulhar de novo na lagoa da fazenda Pratinha. Como seria bom se a Pratinha fosse ali em Ipanema.


Para mim, Lençóis foi assim. Espero um dia voltar.

Fotos: Acervo Pessoal


Carioca, psicóloga, poeta, cantora, compositora, Cynthia Dornelles fez três álbuns: “Minha Aldeia” , “Cynthia Movimentos” e “Onde A Música Não Para” Em 2022, lançou um livro de contos chamado “Movida a Sonhos”. Em 2014, participou junto ao Movimento de Arte Pornô de uma exposição no MAR ( Museu de Arte do Rio) chamada “Josephine Baker e Le Corbusier- Um Caso Transatlântico” com curadoria de Fernanda Nogueira”. Em 2015, fez parte da exposição de fotografia “Linhas de Fuga” com o coletivo Singular Plural com curadoria de Mickele Petrucelli.


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