Meu nome é Maria Fernanda. Estou aqui como convidada para contar um pouquinho para vocês como foi a minha primeira viagem de avião nesse ano de pandemia.
Sou brasileira de ascendência portuguesa e filha única. Meus avós e pais foram para o Brasil há alguns anos em busca de oportunidades. Aliás, minha história é comum como a de muitos outros brasileiros.
Meu avó teve um pequeno negócio de ferramentas na Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro. Meu pai é administrador e minha mãe é professora de inglês. Estudaram e se formaram em escolas e universidades brasileiras. Enfim, foi assim que se conheceram.
FÉRIAS E PANDEMIA
Minhas férias estavam programadas para março de 2020. Mas, naquele momento, o mundo foi parando, parando e parou de vez. A ideia era vir para Lisboa e depois fazer um passeio por Portugal de carro. Sempre quis percorrer a EN2 que corta o país de norte a sul, de Chaves a Faro. São 738 km de estrada que passam por aldeias e locais históricos. Meus pais viriam também. Claro, que não rolou! Deixei pra lá!
O que aconteceu? Voos cancelados e passagens suspensas sem data para remarcação. Mas, eis, que há poucas semanas minha avó teve uma recaída de saúde por causa da diabetes. Graças a Deus, agora, os dois estão bem dentro do que podemos chamar de certa “estabilidade” dos números portugueses da Covid-19.
Mesmo que nesse dia 15 de setembro, o governo central tenha iniciado um novo processo de contingência. Algumas regras foram modificadas para fazer frente ao aumento de casos de infecção. No entanto, precisávamos vir. Meus tios daqui estão por perto, mas minha mãe ficou muito preocupada.
AEROPORTO DO RIO DESCONHECIDO E SORRISOS POR TRÁS DAS MÁSCARAS
Remarcamos as datas com facilidade para essa primeira quinzena de setembro. Sem maiores problemas. No entanto, de cara quando cheguei ao aeroporto do Rio não o reconheci. Levei um susto ao sair do táxi. Aquele movimento de motoristas, carregadores e passageiros sumiu. Aquela agitação de vozes e gritos também sumiram. Pensei que podíamos estar até um pouco adiantados demais. Que nada: estava vazio mesmo. E, todo mundo com máscaras.
A primeira coisa que nos pediram foi o exame PCR da Covid-19 feito até 72 horas antes do voo. Somente depois, entregamos nossos passaportes portugueses e a impressão das reservas e checkins confirmados. Sim, meu pai imprime tudo! Reserva digital no telemóvel, como dizem os portugueses, não é com ele.
Ficamos um tempo ainda na área externa e depois passamos pelo controle de passageiros e de passaportes. Tudo vazio! Ficamos sentadinhos em um café de frente para a pista e para os aviões. Tudo muito estranho, sem aquele agito de lojas inclusive do Duty Free. Vi apenas um senhor comprando chocolates e biscoito.
Pelo chão, adesivos demarcando a distância entre os passageiros, mesmo na fila das lanchonetes. Vozes abafadas. Sorrisos com os olhos. E, passageiros e atendentes escondidos pelas máscaras.
UMA VIAGEM ESTRANHA: FOI UM TESTE
O embarque no avião foi lento. A galera aglomerou no caminho. Minha sensação foi que todo mundo estava testando as condições da companhia e as suas próprias também para essa primeira viagem de avião nesse ano de pandemia. A saída atrasou 20 minutos. Todos acomodados: tchau Rio!
A todo estante, os avisos em português e inglês confirmavam que era para manter a máscara durante todo o voo. Ah, e, trocar a cada 4 horas. Não houve orientação de usar somente máscaras descartáveis como soube depois que foi exigido por outra companhia aérea. “Só retire a máscara durante as refeições”, completava o comandante. Esse aviso foi repetido muitas e muitas vezes até a chegada a Lisboa.
A refeição foi restrita: massa com tomate e frango com legumes e arroz. Como não como muito e não curto comida de bordo, tudo bem. Tudo veio em uma caixinha. Mas, cerveja e vinho foram servidos como de costume. O café da manhã também foi servido em outra caixinha: o de sempre! Sem novidades!
E, finalmente, chegamos! Acho que esse voo passa rápido. Afinal, há o oceano Atlântico entre Brasil e Portugal para só um pouco mais de 9 horas.
ENFIM, LISBOA: AQUELE VISUAL ESPETACULAR
Achei o desembarque até bem tranquilo. Os passageiros esperaram para sair de fila em fila. Enfim, assim não houve aglomeração. Já no aeroporto, houve uma fila para mostrar de novo o resultado do exame PCR da Covid-19.
Naquele mesmo momento, vi no lado esquerdo da área onde estávamos, uma turma de macacão branco, com óculos transparentes, máscaras e escudos de rosto. Parecia uma cena do filme “Contágio”.
Eram funcionários que estavam fazendo testes (de sangue) de passageiros de outro voo para checar se estavam infectados ou não. Não sei de onde vinham. Tudo guardado pela Polícia.
ENTRE BRASIL E PORTUGAL
Minha avó quase chorou de alegria quando nos viu. Ela vive na Vila de Azeitão que pertence ao Concelho ( com “c” mesmo) de Setúbal: uma joia da região. A cidade é sede da Casa-Museu José Maria da Fonseca que produz o vinho Periquita. Fica do outro lado do rio Tejo a mais ou menos 45 km de Lisboa pela Ponte 25 de abril. Foi uma festa em casa portuguesa com certeza com a nossa chegada.
Há algum tempo, a ponte aérea Rio-Lisboa-Rio faz parte das nossas vidas já que meus avós retornaram para a terra natal há um pouco mais de 10 anos. Naquela época, minha bisavó ainda era viva.
Bem, o tempo foi passando e eles resolveram ficar mais perto da família que vive aqui em Portugal. Não voltaram mais. Nós é que fazemos de tudo para ficar mais perto deles mesmo com um oceano de distância.
E, nesse ano de pandemia, a viagem foi inesquecível. Isso não só pelo clima de filme, mas também, pela experiência e pela superação do medo inicial. Pelos meus avós, vale tudo!
Comments